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Josh Klinghoffer: passado, presente e futuro do agora ex-guitarrista do RHCP

O Josh Klinghoffer deu uma excelente entrevista de uma hora para o podcast WTF do Marc Maron onde contou muitas coisas sobre a vida e carreira, além de explicar como foi a sua saída do Red Hot Chili Peppers e como se sentiu com isso. Traduzimos a entrevista na íntegra pra você conferir.

Marc Meron e Josh Klinghoffer

MARC MARON: As pessoas estão enlouquecidas, temos que falar sobre isso. Você está fora dos Chili Peppers e essa entrevista foi marcada antes. O anúncio da sua saída aconteceu no dia depois que marcamos essa entrevista, o que está acontecendo? Pensei: Frusciante está de volta, preciso entrevista-lo, mas tenho Josh vindo falar comigo e as pessoas precisam de respostas. Eu vi vocês no show beneficente que apresentei, no Silverlake Conservatory Of Music (02/11). O que aconteceu? Você sabe o que aconteceu? Sabia que isso estava acontecendo?
JOSH: Não, não fazia ideia.

MARC MARON: Sério, cara?
JOSH: Foi uma surpresa. Na verdade foi um choque, não surpresa.

MARC MARON: Como não? Você é amigo de John Frusciante!
JOSH: Eu era, antes de entrar na banda. Depois que entrei não conversamos muito. Não falei com ele nos últimos 10 anos, até o casamento de Flea em outubro, onde falamos rapidamente.

MARC MARON: Talvez devêssemos voltar: você foi pego de surpresa e está fora?
JOSH: Sim.

MARC MARON: E você não recebeu nenhuma explicação?
JOSH: É bem simples, não teve animosidade. A explicação era que o John gostaria de voltar. Ele e o Flea estavam tocando juntos já fazia um tempo.

MARC MARON: Pelas suas costas.
JOSH: Sim, eles estavam fazendo jams. No momento que falamos, eu não fiquei surpreso, isso passou pela minha cabeça uma ou duas vezes, quando ouvi que John e Flea estavam se encontrando. Naquele momento que me falaram eu senti uma grande onda de amor por eles, por tudo que eu tinha feito, então coloquei uma barreira e parei naquela sensação.

MARC MARON: Então você se concentrou na gratidão?
JOSH: Sim, eu detesto soar assim, isso é muito difícil pra mim, mas é assim que estou vivendo e me sinto muito bem.

MARC MARON: Por quanto tempo você ficou com eles?
JOSH: Dez anos. Foi uma década perfeita. Fiquei de outubro de 2009 a dezembro de 2019.

MARC MARON: Você fez vários álbuns com Frusciante quando ele saiu?
JOSH: Não, ele ainda estava no RHCP quando eu fiz os álbuns com ele.

MARC MARON: OK, você participou dos discos solos. Você fez um ou dois discos de estúdio com os Chili Peppers?
JOSH: Dois e meio (risos).

MARC MARON: Eu ouvi seu trabalho solo, são ótimos álbuns. Mas voltando, ficou estranha a sua relação com o Frusciante quando você entrou no Red Hot?
JOSH: Meio que sim, mas a coisa era que éramos amigos quando trabalhamos juntos e eles decidiram que queriam continuar depois de uma pausa e ele (Frusciante) sustentou que não queria mais, então eles me pediram para ficar. Acho que ele ficou surpreso que continuariam sem ele e eu conversei com ele como seu amigo e falei que a banda queria que eu continuasse e foi estranho. Eu estava numa posição estranha.

MARC MARON: Isso é interessante, você era a opção lógica.
JOSH: Eu assumi o papel que me deram. Eu não queria ter essa conversa comigo mesmo, mas me tornei um guitarrista quando comecei a tocar com Bob Forrest.

Bob Forrest e Josh Klinghoffer

MARC MARON: Eu falei com o Bob e ele tocou com o Bicycle Thief. Eu o acho ótimo.
JOSH: Sim, ele é ótimo.

MARC MARON: Onde você cresceu?
JOSH: Aqui no Valley (bairro de Los Angeles). Meus pais são de Nova Jersey, NY. Eu e minha irmã somos os únicos californianos da família.

MARC MARON: Qual parte de Nova Jersey?
JOSH: A parte norte. Minha mãe nasceu no Brooklyn e meu pai no Bronx. Eles se mudaram depois.

MARC MARON: Eles são judeus?
JOSH: Meu pai é judeu, minha mãe é católica irlandesa.

MARC MARON: Cresceu com as tradições judaicas?
JOSH: Culturalmente sim.

MARC MARON: Por quê os seus pais mudaram pra California?
JOSH: Por conta do trabalho que tinham. Meu pai trabalhava com gravação de áudio para TV. Ele era operador de boom.

MARC MARON: Esses caras são importantes. Então tinha equipamentos de áudio pela casa?
JOSH: Sim, tinha uma máquina em particular que parecia incrível.

MARC MARON: Sua mãe trabalhava com show bussinees?
JOSH: Não, ela trabalhava na AT&T até eu nascer e ficou um tempo sem trabalhar. Depois trabalhou na escola onde eu fiz o Ensino Médio como conselheira dos alunos. O que tudo bem, pois eu não ia pra sala dela com muita frequência.

MARC MARON: Você não era um aluno ruim?
JOSH: Não, mas deixei a escola mesmo assim.

MARC MARON: Você tem irmãos?
JOSH: Tenho uma irmã mais nova.

MARC MARON: Ela está no show business?
JOSH: Não.

MARC MARON: Ela tem uma vida normal?
JOSH: Eu não sei…ela é ótima, ela me ajuda.

MARC MARON: Como ela te ajuda?
JOSH: O tempo inteiro. Quando estou em turnê, ela me ajuda na minha vida pessoal. Ela que administra a minha vida.

MARC MARON: Você não terminou o Ensino Médio?
JOSH: Não, eu larguei no começo Segundo Ano do Ensino Médio (11th grade nos Estados Unidos) aos 15 anos.

MARC MARON: Você foi na sala de conselheira da sua mãe e disse “eu cansei do ensino médio”?
JOSH: Sim, e esse foi um grande problema. Não sei se eles estavam fazendo um trabalho tão bom…nós falamos com alguns conselheiros e vimos que eles não estavam indo muito bem.

MARC MARON: Você não disse pra ninguém que estava saindo?
JOSH: Eles deduzem isso se eles não veem mais o seu nome nas aulas. Mas não sei se ela fez algo sobre o fato de eu não voltar pra escola.

MARC MARON: Então apenas parou de ir pra escola?
JOSH: Sim. Foi o resultado de uma política estranha que estava acontecendo na escola. Muitas aulas estavam com um número considerável de ausências e algumas matérias foram sendo canceladas.

MARC MARON: Mas sua mãe sabia que você ficava em casa, né?
JOSH: Sim, foi um período muito tenso. Eu tentava evita-los.

MARC MARON: Foi um momento de revolta do tipo “foda-se, pais. Vou usar drogas”?
JOSH: Não, foi quando eu aprendi a tocar guitarra. Eu comecei na bateria.

MARC MARON: Você ainda consegue tocar bem a bateria?
JOSH: Eu não sei, eu tocava bateria como um guitarrista que mal tocava bateria.

MARC MARON: Então começou a tocar guitarra quando saiu da escola?
JOSH: Eu ficava tocando a madrugada inteira e, quando eu percebia que meus pais acordavam, eu ia pra cama.

MARC MARON: Você tocava no seu quarto?
JOSH: Sim, na maior parte do tempo.

MARC MARON: Qual foi a sua primeira guitarra?
JOSH: Uma Stratocaster sunburst que eu comprei de um cara da escola que estudava.

MARC MARON: Era uma guitarra americana boa?
JOSH: Era uma guitarra Fender japonesa dos anos 1980 que tinha um Tremolo engraçado. A Fender fazia isso.

MARC MARON: Então essa foi a sua primeira guitarra?
JOSH: Que eu quebrei em uma briga com a minha mãe quando bati com ela no chão quando estávamos discutindo sobre a escola. Eu bati com a guitarra em direção à mãe dela (minha vó) que também estava brigando comigo e ela explodiu. Ficou anos quebrada em uma caixa e depois que me juntei a banda, levei para um cara chamado Eric consertar. E então eu usei a guitarra no primeiro disco dos Chili Peppers que eu participei. Também usei na primeira turnê que eu fiz com eles. E então o Red Hot foi induzido ao Rock And Roll Hall Of Fame e agora ela está lá no museu.

MARC MARON: A sua primeira guitarra, que você quebrou em uma discussão quando estava bravo com a sua vó, agora está lá?
JOSH: Era ela que estava brava comigo.

Nessa foto, é possível ver a primeira guitarra do Josh Klinghoffer que atualmente está Rock And Roll Hall Of Fame Museum em Cleveland.

MARC MARON: Então você está no Rock And Roll Hall Of Fame?
JOSH: Sim.

MARC MARON: Mas todo mundo do Red Hot Chili Peppers está no Rock And Roll Hall Of Fame.
JOSH: Não, não está todo mundo que tocou com a banda.

MARC MARON: Sério? É assim que funciona?
JOSH: Eu não tenho certeza como funciona.

MARC MARON: Quando você começou a tocar guitarra, o que estava ouvindo? Você tem um estilo agora que, não sei se você chama de psicodélico ou outra coisa, mas parece que você quer chegar em algum lugar com o jeito que toca. Como o Jonny Greenwood do Radiohead, por exemplo, que faz algo parecido com o Robert Fripp, que usa tecnologia e efeitos. Parece que esse é o mundo que você quer ocupar.
JOSH: Eu toco como um cara que não cresceu tocando guitarra. Quando eu comecei a tocar com o Bob Forrest, ele estava sóbrio há um ano e queria fazer música de novo. Eu tinha 17 anos e o conheci na rua da casa dos pais da namorada dele no Valley (Los Angeles).

MARC MARON: Você estava tocando? Você já tocava há dois anos, certo?
JOSH: Eu tocava no meu quarto quando parei de ir pra escola.

MARC MARON: Quem eram os seus heróis nesse momento?
JOSH: Todas as músicas que eu gostava quando era criança, começando pelos Beatles e Beach Boys. Depois, quando eu tinha uns 8, 9 anos, veio o Guns ‘N’ Roses, Motley Crue…

MARC MARON: O que você acha do Slash como guitarrista?
JOSH: Ele é um dos meus favoritos. Eu com certeza o adoro.

MARC MARON: Ele é um monstro tocando guitarra, não é?
JOSH: Sim, com certeza. O Guns ‘N’ Roses foi induzido no Rock And Roll Hall Of Fame no mesmo ano do RHCP e ele estava lá. Eu fiquei do lado dele.

MARC MARON: Você falou com ele? Ele é legal.
JOSH: Não, apenas falei um “oi” pra ele. Fiquei mais amigo do Duff McKagan (baixista do Guns), que é um cara incrível.

Slash e Josh Klinghoffer no encerramento da cerimônia do Rock And Roll Hall Of Fame em 2012.

MARC MARON: Então você meio que só sabia como tocar guitarra?
JOSH: Estava aprendendo a tocar no meu quarto ouvindo os discos que eu tinha e aí apareceu o Bob Forrest.

MARC MARON: Os pais da namorada do Bob Forrest moravam na esquina da rua que você morava?
JOSH: O irmão da namorada do Bob Forrest na época era e ainda é um dos meus melhores amigos até hoje. Na época eu tinha 17 anos e ele é 3 anos mais velho que eu. Então costumávamos conversar sobre música e fumar cigarros. E o Bob queria fazer alguma coisa e eu era o cara da rua.

MARC MARON: Na época que o Bob Forrest estava sóbrio?
JOSH: Sim.

MARC MARON: E ele era amigo dos Chili Peppers e de outros caras. Ele já fazia parte desse mundo, certo? Quem fazia parte desse mundo nessa época? Eu conversei com o Bob Forrest e lembro que ele falou que era próximo desses caras e até chegaram a trabalhar juntos, certo?
JOSH: Sim, eles viviam e andavam juntos pela cidade. Eram os Thelonious Monster, Chili Peppers, Fishbone, Jane’s Addiction, todas essas bandas. Elas nasceram de uma cena punk que aconteceu na California.

MARC MARON: Muita heroína?
JOSH: Sim, muito de tudo.

MARC MARON: Você sabia que essas coisas estavam acontecendo na época?
JOSH: Eu era muito novo. Eu estava com 11 anos quando estava no Ensino Fundamental. Era 1991 e foi quando apareceu o Nirvana, Pearl Jam e toda essa cena. E isso foi tudo pra mim na época. Pensei: “olha, tem uma cena acontecendo com pessoas tocando juntos em uma banda”. E desde então, tudo que eu sempre quis foi estar em uma banda e tocar músicas que eu amo com meus amigos.

MARC MARON: Então o Bob Forrest te encontrou? Há apenas um álbum do Bicyle Thief, certo?
JOSH: Sim, apenas um. Ameaçamos várias vezes fazer mais um disco. Talvez agora a gente faça. Agora eu estou com mais tempo.

Capa do álbum You Come And Go Like A Pop Song, o único do Bicycle Thief até o momento, que foi lançado em 1999.

MARC MARON: E agora você está no Rock And Roll Hall Of Fame e tem tempo. Como foi que ele te abordou?
JOSH: Ele deixou uma mensagem na minha caixa postal. Ele tinha umas músicas que tinha escrito e então começamos a tocar. Agora eu o conheço há mais de 20 anos e ele consegue fazer isso. Lembro que tínhamos shows marcados em um mês por causa do Thelonious Monster e agora o tempo faz mais sentido pra mim agora porque não foi muito tempo depois que ele esteve no Thelonious Monster e ficou sóbrio. E fizemos alguns shows. Eu, ele o Dix Denney (guitarrista) do Thelonious Monster.

MARC MARON: Se apresentar como Thelonious Monster?
JOSH: Era o que foi anunciado, porque ainda não tínhamos criado o Bycicle Thief e nem feito músicas juntos. Lembro que nessa noite eu pensei “eu sou um guitarrista agora”. E não era algo que eu assumia antes.

MARC MARON: Eu gosto das músicas dele.
JOSH: Ele é incrível.

MARC MARON: Ele é um bom compositor. Não sei porque ele não é mais conhecido.
JOSH: Isso pode acontecer.

MARC MARON: O último álbum que ele fez foi bem sombrio e pra baixo. E fala sobre não poder mais comer o cereal favorito.
JOSH: Essa música está no álbum do Bicycle Thief.

MARC MARON: Está no álbum? Porque ele faz uma versão acústica dessa música no último álbum.
JOSH: Nessa música (“Cereal Song”), o John Frusciante faz um solo de guitarra comigo. E foi pouco tempo depois que eu o conheci.

“Cereal Song”, música do Bicycle Thief que tem participação do John Frusciante.

MARC MARON: O Frusciante estava nos Chili Peppers?
JOSH: Quando eu conheci o Bob Forrest e comecei a tocar com ele e a conhecer o grupo da cena musical que ele fazia parte, o John ainda não estava no Red Hot. Ele estava se recuperando do período sombrio que ele passou quando ele não estava na banda.

MARC MARON: Mas ele esteve na banda antes?
JOSH: Sim, ficou lá em 1988, 1989, 1990….

MARC MARON: E depois disso ele desapareceu no seu buraco de heroína.
JOSH: Sim. Ele saiu da banda em 1992. Ele voltou pro RHCP um ano depois que comecei a tocar com Bob Forrest. Talvez um pouco antes do álbum Californication, meio que viramos amigos, começamos a conversar. Ele veio tocar aquele solo de “Cereal Song”.

MARC MARON: Então quando ele veio tocar o solo com o Bob Forrest, vocês começaram a sair juntos?
JOSH: Eu fiquei bem obcecado pelo seu primeiro álbum solo, de 1994.

MARC MARON: Qual álbum?
JOSH: Niandra Lades And Usually Just a T-Shirt.

MARC MARON: Você gostava do jeito que ele tocava?
JOSH: Sim, eu gostava de suas musicas, do jeito que tocava, do jeito que escrevia e cantava. Aquele álbum…é engraçado porque vi recentemente algo que ele falou sobre o álbum e era algo que não era pra ser lançado, era só pra ser uma demo.

MARC MARON: O que você achou incrível nesse álbum?
JOSH: Acho que foi feito para ninguém ouvir. Feito apenas para um público pequeno, que são as pessoas que ele conhecia.

MARC MARON: E o que você gostava do jeito dele tocar?
JOSH: Ele tem um jeito incrível como tira o som com os dedos dele. Ele é muito habilidoso. Ele criou um estilo próprio incrível que ele desenvolveu ouvindo os guitarristas sensacionais que ele ouvia.

MARC MARON: Não é estranho como não importa quão rápido a pessoa toca, o importante é ter um estilo próprio? Lembro que eu estava conversando sobre isso falando sobre o John Mayer depois que eu fui num show do Dead And Company com meu irmão. E eu não sei quem ele é como guitarrista. Mas ele é um ótimo guitarrista! Mas não sei exatamente como é o som, o timbre dele…mas tem muitos que eu consigo identificar que tem menos virtuosidade e identifico na hora as referências que ele tem pelo jeito que toca e o som que tira.
JOSH: Eu falo que sou um cara que não cresceu tocando guitarra. Eu fui desenvolvendo isso ao longo do tempo, tocando com o Bob Forrest, por exemplo. Eu tenho influências no jeito que eu toco, mas…(Josh é interrompido pelo entrevistador).

MARC MARON: Eu acho que você tem um estilo próprio. Como você disse, muito do que aprendeu foi imitando as pessoas tocando.
JOSH: Eu não aprendi fazendo exercícios pros dedos e estudando escalas. Eu apenas tocava as músicas. Eu toquei com o Bob Forrest até os meus 20, 21 anos.

MARC MARON: Quantos álbuns vocês fizeram?
JOSH: Apenas um, mas me tornei amigo dos Chili Peppers e abri turnê pra eles sendo o primeiro show de três que aconteciam na noite. Primeiro foi com os Foo Fighters e depois com o Stone Temple Pilots. Foi na turnê do Californication quando eles estavam se dedicando bastante e se apresentavam em todos os lugares possíveis dos Estados Unidos.

MARC MARON: E vocês fizeram bastantes shows juntos?
JOSH: Foram duas ou três semanas de shows.

MARC MARON: Então passaram bastante tempo juntos.
JOSH: Sim. Foi por isso que eu me juntei de vez anos depois. Foi tudo natural, eu já conhecia todo mundo da equipe de turnê deles. Eu sabia como trabalhavam.

MARC MARON: Mas é difícil ser o primeiro show da noite.
JOSH: Ainda é para mim. Na época eu tinha 20, 21 anos e mal olhava para o público. Eu sei que a maioria estava tentando achar o lugar pra sentar e comprando cerveja. Mas a oportunidade de estar lá era muito boa.

MARC MARON: Como era a relação com John Frusciante?
JOSH: A relação que construímos era de amigos. Tocávamos juntos, tínhamos influencias em comum.

MARC MARON: Ele é mais velho que você?
JOSH: Sim, ele é 9 anos mais velho. Quando ele entrou na banda ele era 10 anos mais novo que o grupo. E eu sou quase 10 anos mais novo que ele, então sou 18 anos mais novo que o grupo.

MARC MARON: Serio? Eles são um pouco mais velhos que eu, que estou 56.
JOSH: Sim, eles nasceram em 1962 e 1961. Eu sou de 1979.

MARC MARON: E como se desenvolveu isso? Você fez turnê com eles e como era seu plano?
JOSH: Meu plano sempre foi fazer parte de uma banda. Com Bob Forrest não era bem uma banda, eu tocava com ele e alguns caras ajudavam. Quando parei de tocar com Bob era o momento de começar algo. Estava no começo dos meus 20 anos e queria passar meus 20 anos tocando com bandas. Os Chili Peppers estavam em turnê, eu estava com a minha carteira de habilitação suspensa, e o Frusciante estava morando no Chateau Marmont (um hotel em Los Angeles onde é comum muitas celebridades morar por um tempo), e ele não saia de lá porque tinha muito para ensaiar e criar algo novo. Então eu fiquei lá duas semanas e meia e gravei um álbum praticamente inteiro.

MARC MARON: Com ele?
JOSH: Não, sozinho. Porque eu não tinha para onde ir, eu tinha meu gravador e estava sem a minha habilitação. Então eu fiquei lá, gravando a noite toda. E ninguém nunca ouviu. E no fim da estadia, Gibby Haynes (vocalista do Butthole Surfers) ligou para o Bob Forrest, que ligou para o John e disse “a gente precisa de um guitarrista que também possa tocar bateria” então eu fiquei com o Butthole Surfers por um mês e meio.

MARC MARON: Isso deve ter sido louco! Eles estavam em turnê?
JOSH: Eles estavam em turnê de um álbum que chama Weird Revolution eu acho.

MARC MARON: Lembro que lançaram o álbum Hairway to Steven quando eu era mais novo. Era o principal álbum deles e ficávamos nos perguntando o que era aquilo.
JOSH: Então eles lançaram o principal hit no começo dos anos 90, chamado “Pepper”.

MARC MARON: Essa música não fazia parte do álbum Hairway To Steven?
JOSH: Não, foi lançada em alguns álbuns depois dele. O Eletriclarryland (1996).

MARC MARON: Eletriclarryland! Não consigo lembra dessa música…como era o refrão?
JOSH: Josh canta o refrão.

MARC MARON: É isso mesmo! É uma boa música.
JOSH: Eu acho que eu ainda tenho o backing track (parte instrumento da música gravada em estúdio) dessa música comigo.

MARC MARON: Eles são psicodélicos, né?
JOSH: Sim, mas não era muito quando eu estava em turnê com eles.

MARC MARON: Conseguiu juntar um dinheiro?
JOSH: Sim, um pouco…eles não eram uma banda há um tempo. Então se juntaram e fizeram um álbum.

MARC MARON: Quantos deles estavam na banda quando você fez a turnê com eles?
JOSH: Era o Gibby Haynes (vocalista), Paul Leary (guitarrista), King Coffey (baterista) e um baixista que não fazia parte da formação original (Nathan Calhoun).

MARC MARON: E você conseguiu aprender a tocar as músicas?
JOSH: Sim, eu aprendi o set list que iam tocar, que era sempre o mesmo. Foram vários ensaios que começavam 12h30. Tocávamos o set inteiro uma vez, fazíamos uma pausa, e às 20h30 tocávamos o set de novo. Na época eu morava num Days Inn (hotel) em Austin e fica acordado até tarde assistindo TV e tocando guitarra. Acordava 12h15, levantava, entrava no carro que me buscavam e ia para o ensaio. Eu estava nessa rotina quando aconteceu o 11 de setembro de 2001 (dia da queda do World Trade Center com dois aviões em Nova Iorque). Lembro que subi as escadas, dei bom dia pros caras enquanto tomava café e eles me falaram “não viu o que aconteceu? O World Trade Center caiu.” Ensaiamos durante uma hora e meia e só depois eu fui ver o que realmente aconteceu. Quando voltei pro hotel eu vi as notícias do que estava acontecendo. Fiquei no Texas por um mês.

MARC MARON: Vocês tocaram nesse dia?
JOSH: Nós ensaiamos. A noite também nos encontramos pra ensaiar.

MARC MARON: Você teve que tocar bateria?
JOSH: Não toquei a bateria principal, porque o King que tocava bateria. Mas tocava o que eles precisassem que eu tocasse.

MARC MARON: Então depois de tocar com o Bob Forrest, você fez parte da turnê de reunião do Butthole Surfers e ainda assim você queria fazer suas próprias coisas. O que aconteceu com o que criou no Chateau Marmont?
JOSH: Nada. O baixista (Nathan Calhoun) da turnê que fiz com o Butthole Surfers masterizou o material um dia antes de sairmos em turnê. Lembro de ter ouvido sozinho e mostrado pra um ou dois amigos e foi isso. Ainda existe em alguns iPods.

Josh Klinghoffer se apresentando com o Butthole Surfers

MARC MARON: Você não tem esse material?
JOSH: Sim, eu tenho. Eu regravei uma das músicas. Tem algumas músicas que eu ainda amo. Mas se desenvolver como compositor, sendo uma criança que tocava bateria e um cara que não se considerava um guitarrista, na época eu ficava pensando: “Deveria fazer uma banda agora? Deveria começar a cantar?”. Eu estava vivendo os meus sonhos aos 20 anos com outras bandas.

MARC MARON: O que você fez depois da turnê com o Butthole Surfers?
JOSH: Eu fiz algumas coisas pela cidade. Eu era um grande fã do Jon Bryant na época e me encontrei várias vezes com ele.

MARC MARON: Sério? É um mundo diferente. É um mundo estranho musical de Los Angeles. Não é o mesmo que o dos Chili Peppers, é um mundo próprio.
JOSH: Isso aconteceu porque depois que eu parei de tocar com o Bob Forrest com o Bicycle Thief, tínhamos um álbum (You Come And Go Like A Pop Song) que foi lançado de uma maneira diferente. Teve uma festa de lançamento na Viper Room e o Bob pediu pra eu fazer porque tinham bandas acontecendo na época que eram referência para o Bob como o Wallflowers e Counting Crows e alguns caras dessas bandas estavam lá. E eu aceitei tocar. Tivemos uma pequena discussão, mas resolvemos rápido. Eu não levei o case de guitarra, levei a guitarra comigo pela rua, toquei e fui embora. E o baterista na ocasião era um cara chamado Dame McCarroll, que eu já tinha visto tocar com o Jon Bryant direto. Um ano depois desse show, eu recebi uma ligação dele dizendo que era amigo do Jon Bryant e estavam montando uma banda residente de rock no Space Land (clube de shows de Los Angeles). Eu fiquei em choque pelo convite e pensei que não seria o segundo guitarrista. Eu quis recusar, mas acabei indo, e foi assim que eu o conheci.

MARC MARON: E como foi trabalhar com o Jon? Porque ele é um gênio. Ele estava tocando guitarra ou piano?
JOSH: Estava tocando os dois, mas mais guitarra. Era uma banda de rock, então focou nisso. Trocávamos solos e é claro que eu sabia o quão bom ele era como guitarrista. Eu o tinha visto tocar tantas vezes que eu conhecia as músicas só de olhar ele tocar. O álbum ainda não tinha sido lançado. Quando fomos ensaiar um dia antes do primeiro show, eu toquei todas as músicas que tinha aprendido observando ele tocar. Acho que isso o tocou de certa forma. Então ficamos amigos.

MARC MARON: Vocês ainda são amigos?
JOSH: Faz um tempo que não falo com ele.

MARC MARON: Eu o vi tocando com o show Argo.
JOSH: Eu acho que não vi ele se apresentando com esse show.

MARC MARON: Ele estava tocando piano nesse show. Eu não vivi toda essa cena…eu vim de Nova Iorque em 2002, mas não participei dessa cena musical que veio pra Los Angeles. Tinha caras como Jon Bryant, Fiona Apple, entre outros..
JOSH: L.A. Smith também.

MARC MARON: Você tocou com ele?
JOSH: Estou tentando lembrar se eu dividi palco com ele…depois que eu fiquei amigo do Jon Bryant, sempre que eu podia eu tocava bateria em algum show. Talvez eu tenha tocado com ele, mas não lembro exatamente. Toquei com muitos deles.

MARC MARON: Tinha comediantes também, como o Zack, Paul…
JOSH: Sim, eu os conheci. Acho que o Paul fez alguma coisa com Bob Forrest.

MARC MARON: Então você estava com o Jon Bryant. Qual foi o processo álbum que você gravou?
JOSH: Eu não gravei nada depois do Jon Bryant. Depois, talvez por causa de algumas pessoas que eu conheci nessa época, recebi uma ligação do Beck. Em 2003, eu saí em turnê com o Beck. Então depois do Bicycle Thief e Butthole Surfers, eu faço uma turnê com o Beck.

MARC MARON: Você tocou com o Beck?
JOSH: Eu toquei guitarra na banda do Beck.

MARC MARON: Qual turnê?
JOSH: Era a terceira etapa da turnê do período do álbum Sea Change. Ele fez uma parte com o Flaming Lips e depois com o Smokey Hormel, que é um guitarrista sensacional que tinha sido o ultimo a tocar com o Beck. Lembro que achei estranho estar no lugar dele. Aí cheguei lá e a banda era maravilhosa e nos demos bem. Eu tinha apenas uns 22, 23 anos e estava com pessoas que sempre admirei. Estava com essas pessoas incríveis vivendo o meu sonho.

MARC MARON: É um sonho! Tocando guitarra com o Beck em grandes lugares. Eu suponho que fez parte da evolução do seu som. O quão grande era o seu pedal board nessa época?
JOSH: Era o suficiente pra que conseguir tocar o que estava tocando.

Josh Klinghoffer se apresentando com o Beck.

MARC MARON: Agora é enorme, certo?
JOSH: É enorme. Quando eu entrei no Red Hot, eu notei que o do John Frusciante era enorme quando ele deixou a banda. Então eu segui essa linha. Eu tinha uma versão moderna para o que podemos fazer em termos de modulações e efeitos ao vivo atualmente.

MARC MARON: O que essas coisas fazem?
JOSH: Eles permitem que você tenha vários tipos de som em um curto espaço de tempo.

MARC MARON: Prefere ter vários do que ter apenas um?
JOSH: Sim, e também pisar nos pedais, dançar, desconectar e ver o seu técnico de guitarra consertar.

Pedal Board que o Josh usava em alguns shows que fez com o RHCP

MARC MARON: Eu o vi fazendo isso. Ele ficou em forma mexendo no seu pedal board. E depois de Beck, você começou a tocar com John Frusciante?
JOSH: Sim. Naquela época, começamos a fazer álbuns, passávamos muito tempo juntos quando ele estava de folga.

MARC MARON: Ele não estava ferrado de drogas na época?
JOSH: Nenhuma daquelas pessoas estavam. Sabe, eu tive minha fase um pouco depois, mas não tão ruim quanto eles, com heroína ou com essas coisas. É engraçado falar para si mesmo o que é aceitável ou não.

MARC MARON: Você usava heroína socialmente?
JOSH: Não, nunca usei. Parecia um pouco ridículo para mim, ser jovem, ver essas coisas e mesmo assim usar.

MARC MARON: Imagino, porque você teve uma relação com o Bob Forrest e viu o mal que faz. Mas todo mundo ficou sóbrio. Então com John, vocês estavam fazendo discos.
JOSH: Sim, passávamos tempo juntos ouvindo musica, praticando harmonias vocais, ficamos amigos e decidimos fazer discos juntos, o que acabou virando Shadows Collide With People. Eram as músicas que ele estava escrevendo nessa época. Começamos comigo tocando bateria, fizemos algumas demos, foi a primeira vez que gravei bateria em um estúdio profissional. E eu não estava mais tocando tanto a bateria na época. Então chamamos o Chad Smith para nos ajudar e eu fui para o baixo e subitamente éramos três pessoas tocando e foi assim que esse álbum saiu. Nos divertimos fazendo ele.

MARC MARON: O quanto você é bom no baixo?
JOSH: Não sei, eu consigo tocar.

MARC MARON: Mas não é seu instrumento?
JOSH: Não, mas eu amo tocar baixo e na turnê seguinte que participei, foi inicialmente dito para mim que eu tocaria baixo com PJ Harvey, e recebi uma ligação dela. Foi outro convite que recebi na caixa postal.

Josh tocando baixo.

MARC MARON: Como ela te achou?
JOSH: Ela me achou através de Vincent Gallo (ator, diretor e músico que chegou a fazer clipes para algumas músicas da carreira solo do John Frusciante).

MARC MARON: Você tocava com ele?
JOSH: Sim, toquei com ele, nos conhecemos através do Frusciante, eles se tornaram amigos, trabalharam juntos, fizeram um vídeo, de uma música.

MARC MARON: O Vincent Gallo é aquele tipo de cara que está sempre em volta, mas nunca soube exatamente o que ele faz.
JOSH: Ele faz muitas coisas.

MARC MARON: Sim ele faz filmes, músicas, se veste de um jeito específico…
JOSH: Ele fez alguns shows no Japão e montou uma banda, comigo e Carla Azar, baterista de uma banda chamada Autolux. Ela tocou com Jack White recentemente. Fizemos quatro shows no Japão. Foi como tocar com os Beatles. Vincent é conhecido lá.

Josh Klinghoffer se apresentando com o Vincent Gallo.

MARC MARON: Esse é um outro projeto paralelo.
JOSH: E fizemos no ano seguinte no Fuji Festival (Japão). Então, Vincent deu meu telefone para Polly (PJ Harvey) e ela deixou uma mensagem na minha caixa postal. E o plano original era tocar com três instrumentos, o que a vi fazendo quando estava com Beck em um festival na França. Os dois primeiros discos dela foram assim. Ela tocava guitarra, o baterista Rob Ellis e o Mick Harvey do Bad Seeds no baixo. Então ela me ligou e disse que gostaria de fazer uma turnê como um trio novamente e eu tocaria baixo. E eu falei sim. Então nos tornamos amigos. E eu tocaria baixo. Depois de 4, 5, 6 meses, ela viu a banda The Fall tocar e eles tinham um baixista chamado Jim Watts e ela não queria mais tocar guitarra. Ela o chamou pra banda e então eu fui pra guitarra, o que tudo bem pra mim.

MARC MARON: Ela chamou o baixista do Fall pro baixo?
JOSH: Sim.

MARC MARON: Ela o tirou da banda?
JOSH: Sim, ele teve que sair. Ele manteve uma boa relação com o Marc Smith até o final, o que é raro.

MARC MARON: Você é fã do The Fall?
JOSH: Sim.

MARC MARON: Eu não conheço muito, estou tentando conhecer essas bandas. Você conheceu durante a sua viagem.
JOSH: Eu e o Marc costumávamos trocar uma ideia com uma galera no backstage. Ele poderia ter me dito “que porra é essa”.

MARC MARON: Mas não falou?
JOSH: Não. Ele falou comigo uma vez e se referiu a mim dizendo que eu era o americano (The Fall é uma banda inglesa, assim como a PJ Harvey). Achou que eu não estava ouvindo.

MARC MARON: Você gravou com a PJ Harvey?
JOSH: Não, só fiz turnê.

MARC MARON: Quanto tempo durou?
JOSH: Bastante tempo. Praticamente um ano. Começamos ensaiar em março e abril, e terminamos a turnê em dezembro.

MARC MARON: Qual era a turnê?
JOSH: Chamava “Uh Huh Her”. Era 2004. Fizemos bastante shows, tocamos bastante.

Josh Klinghoffer se apresentando com a PJ Harvey.

MARC MARON: Você ainda tem contato com aquelas pessoas?
JOSH: Sim, algumas delas. Tenho contato com a maioria. Meu técnico de guitarra (Ian), que conheci naquela turnê com a PJ Harvey em 2004 foi comigo para os Chili Peppers.

MARC MARON: Esse técnico de guitarra é “seu cara”?
JOSH: Sim, a gente não se tornou amigo na turnê, eu era o único americano e estava meio obcecado com a Inglaterra e tudo do jeito inglês, tentando sobreviver naquele mar de ingleses. E ele meio que me acolheu. Eu sabia o estilo de humor e música que eu estava me envolvendo. Mas sim, ainda tenho contato com a maioria dessas pessoas.

O técnico de guitarra do Josh Klinghoffer.

MARC MARON: Isso é bom, sem inimizades.
JOSH: Sim.

MARC MARON: Além dos álbuns com Frusciante e Red Hot Chili Peppers, você fez os álbuns do Dot Hacker e Pluralone?
JOSH: Sim, eu estava em turnê com a PJ Harvey e depois disso, em 2005, eu pensei em montar uma banda com um cara de Los Angeles que eu conhecia fazia um tempo, mas não deu certo. Então comecei a sair e fiz turnê com a banda Gnarls Barkley. Eu sou amigo do Danger Mouse (Brian Burton, integrante do Gnarls Barkley que também produziu o álbum The Getaway do RHCP). Fiz um disco com ele, da Martina Topley-Bird que cantou com o Tricky.

MARC MARON: Eu lembro do Tricky. O que aconteceu com ele?
JOSH: Ele está por aí. E a Martina estava nos seus primeiros álbuns e tem uma ótima voz. Era eu, Danger Mouse e ela no solo disco dela. E aí quando eles montaram a banda ao vivo do Gnarls Barkley, foi muito rápido. O guitarrista que saiu em turnê com eles se tornou um grande amigo meu, o Clint Walsh. Ele tinha algum evento de noivado, então não podia fazer o primeiro show. Então o Brian (Danger Mouse) pediu pra eu substituí-lo. Eu fui ensaiar com eles, viajei até a Escócia, tocamos quatro músicas, incluindo a “Crazy” pela primeira vez ao vivo. A música era gigante, uma das músicas do ano. E voltei pra casa, foi divertido.

MARC MARON: Tocaram para um público grande?
JOSH: Sim, era um evento da BBC. E aí nessa época eu não sabia direito o que iria fazer. Então, comecei a tocar com a banda Sparks, você conhece?

MARC MARON: Sim, conheço. São uma banda de Los Angeles, né? Estão velhos agora?
JOSH: Sim, já faz um tempo que eles estão na estrada. Tiveram uma carreira brilhante.

MARC MARON: Desculpa, mas nunca consegui entender o tipo de música que eles fazem. Eu tenho os discos. Sei que é algo único e que eles têm um público específico. Mas meu cérebro não entendeu.
JOSH: Eles mudaram bastante. Tiveram vários momentos, e é isso que é interessante. Tem tipos de fãs diferentes em vários países porque tem hits na Inglaterra nos anos 1970, França nos 1980, Alemanha nos 1990..na Rússia eles são cultuados porque o Ron tinha um bigode parecido com algumas figuras políticas históricas (lembra o bigode do Hitler). Acho que por esse motivo, eles foram colocados na lista negra de algumas pessoas na Rússia. Mas por causa disso, alguns shows lotaram na Rússia. Quando eu toquei na Rússia com eles, não chegou a ser igual a beatlemania, mas foi algo maluco.

MARC MARON: Eles gostavam da música ou do bigode?
Ele não tem mais o bigode agora. Acho que eles gostam da música também.

MARC MARON: Qual é o seu álbum favorito do Sparks?
JOSH: Acho que o Propaganda. Eles tem grandes álbuns como No1 in Heaven que fizeram com o produtor Giorgio Moroder, tem muito sintetizadores e me lembra a época disco, como a Donna Summer.

MARC MARON: Eu acho que não me dou bem com bandas que tem essas mudanças…
JOSH: Eles nunca acabaram. Eles tiveram e tem outras bandas, mas o Ron e Russel Mael são irmão. Provavelmente estão trabalhando agora. Eles trabalham mais que a maioria. Quando começaram, tiveram um hit enorme na Inglaterra. O Queen chegou a abrir shows pra eles. Tinha alguma coisa neles e esse hit se tornou enorme e hoje é um clássico na Inglaterra.

Josh Klinghoffer se apresentando com a banda Sparks.

MARC MARON: Você ficou com eles por um tempo?
JOSH: Sim. Eu comecei a andar com eles porque fiquei muito amigo do Steve McDonald do Redd Kross e ele fazia parte da banda de apoio comigo e me chamou para fazer essa turnê com o Sparks. Estávamos em Londres, depois na Rússia, e me encontrei com Danger Mouse na Finlândia. O tecladista do Gnarls Barkley na época me contou que ele estava saindo da banda. E aí o Danger Mouse dez minutos depois me contou que ele saiu mesmo. Eu percebi que tinha um lugar vago e falei que tocaria com eles. Lembro que voltei pra Rússia no dia seguinte, estava rolando a Copa do Mundo.

MARC MARON: Você já tocava teclado?
JOSH: Eu me fiz essa pergunta quando aceitei (risos). O cara que tocava com eles antes era muito bom.

MARC MARON: Você sabia fazer os riffs?
JOSH: Sim. Eu sabia fazer acordes então aprendi a reproduzir no piano e depois no teclado. Mas não sou um tecladista de fato.

Josh Kinghoffer se apresentando com o Gnarls Barkley.

MARC MARON: Você estava fazendo essas coisas e continuava encontrando John John Frusciante. Imagino que estamos chegando perto dos Peppers.
JOSH: Sim, estamos perto porque Gnarls Barkley foi o que levou a isso. Eles começaram a abrir para o Chili Peppers na turnê do Stadium Arcadium e isso foi ótimo para mim, porque éramos amigos e passamos tempo junto. Teve um cancelamento por causa de uma tempestade de neve e o pessoal do Gnarls Barkley decidiram não ir. Eu quis ir com os Chili Peppers para o México apenas para estar junto porque eu era amigo dos caras e a Cidade do México é um dos melhores lugares pra tocar. E fazia tempo que eu não via o John, porque eu estava em turnê. Nos divertimos. Então eles tiveram que colocar outra pessoa para abrir um show em Oklahoma que estava nevando também. O Gnarls Barkley já não estava mais com eles. E eu toquei com eles. As músicas do Stadium Arcadium tinham muita guitarra extra. E tinham muitas músicas que não dava para tocar sozinho no show porque era impossível o John reproduzir isso ao vivo sozinho, então eu toquei umas duas músicas junto e no voo para casa alguém teve a ideia, acho que foi Chad Smith, de me chamar para continuar na turnê. Foi divertido. Então eu pude fazer as guitarras extras e alguns vocais, além de uns teclados. Isso foi no final de 2007. E quando acabou essa turnê, eles tinham certeza que fariam um hiato de dois anos e falaram para todo mundo que trabalhava com eles: “Não falem conosco. Nos deixem quietos por esse tempo”.

Josh fazendo uma jam com os Chili Peppers durante a turnê do Stadium Arcadium em 2007.

MARC MARON: Sério? E eles fizeram isso?
JOSH: Sim. Flea foi para escola de música, Anthony era um pai recente na época, John sempre estava fazendo música e o Chad começou outra banda e fez turnê. E quando esse período acabou os outros caras falaram “tudo certo”, mas o John ainda não tinha certeza sobre voltar com a banda.

MARC MARON: Por que ele estava curtindo fazer suas músicas?
JOSH: Sim, de novo, ele é um dos melhores, incrível. Ele estava fazendo muitas músicas ótimas e queria continuar e eu estava lá. Isso foi em 2009, 20 de julho, foi quando Flea me chamou. Ainda tinha um tempo de férias. Em outubro, logo depois que fiz 30 anos, tocamos juntos pela primeira vez, num espaço de ensaio no Valley, onde gravaram o Blood Sugar Sex Magik. Foi incrível, de repente eu estava nessa banda.

MARC MARON: E o que estavam fazendo? Organizando uma turnê?
JOSH: Não, eu entrei como membro oficial e compositor.

Uma das primeiras apresentações de Josh como guitarrista do RHCP em 2010.

MARC MARON: Então estavam trabalhando em um novo material?
JOSH: Sim, era hora de um novo álbum depois de dois anos de hiato. Eu não estava tocando muita guitarra, eu tocava teclado, piano, sintetizadores, bateria.

MARC MARON: E você não tinha nenhum álbum solo ainda?
JOSH: Não, nada lançado. Quando os Chili Peppers estavam na pausa, eu prometi não sair em turnê com ninguém, por que era uma ótima situação, cercado de gente maravilhosa, mas era sofrido, porque eu sempre quis estar na minha banda e fazer as minhas músicas e assim eu estava entrando em projetos de outras pessoas. Como eu disse, eu estava vivendo um sonho, mas eu não sabia quanto eu me importava, eu queria compor, queria ter uma banda desde criança. Então eu comecei a perceber mais e mais que eu queria tomar aquela responsabilidade porque é mais fácil de fazer turnê com outras pessoas. Mas aquilo estava me matando. Eu estava cansando, apesar de continuar fazendo vários amigos. E foi aí que montei Dot Hacker e finalmente tive minha banda, comecei a compor e perdi esse medo. Então me juntei com o Clint Walsh (guitarra) da banda de turnê do Gnarls Barjley, Eric Gardner, baterista da segunda turnê do Gnarls Barkley e um baixista chamado Jonathan Hischke que eu conheci através de uns amigos e o convenci a morar em Los Angeles. Começamos o Dot Hacker. Precisávamos de um nome, porque o irmão da namorada do Bob Forrest estava marcando shows pra nós do Troubadour (famosa casa de shows em Los Angeles). Dot Hacker era o nome da vó do Eric. Dortohy Jacker. Eu gosto de chamar de The Dots. Ainda estava tentando descobrir como ser um cantor e um frontman e compor. Estava saindo das sombras.

MARC MARON: Você deu prosseguimento pra banda?
JOSH: Tive que dar uma pausa na banda por causa do RHCP. Sempre que eu tinha alguns meses de folga do Red Hot, a gente trabalhava com o álbum do Dot Hacker. Não conseguimos fazer uma turnê longa. Fizemos alguns shows, conseguimos nos apresentar no Japão. Conseguimos ser uma banda. O engraçado é que o fato de eu estar nos Chili Peppers fez mais pessoas conhecerem a banda. Não tanta, mas alguns.

A banda Dot Hacker

MARC MARON: Eu gosto da sua gravadora.
JOSH: São ótimos. A ORG.

MARC MARON: Sim, eles me mandam bastante coisas junto com os seus discos. Eles fazem um ótimo trabalho.
JOSH: Eles sabem o que estão fazendo. O engraçado é que depois que fizemos o primeiro álbum do Dot Hacker, dois anos depois que saiu, o Steve McDonald tocou para um cara que trabalhava na gravadora. E ele sabia que eu estava nos Chili Peppers e decidiram lançar o álbum. É esse aqui o primeiro álbum do Dot Hacker, o Inhibition (Josh presenteia o entrevistador). Eu te trouxe tudo que eu fiz. Esses três últimos são meus com Chili Peppers. Dois são álbuns oficiais e um é uma coletânea de músicas extras.

MARC MARON: Obrigado, cara. E trabalhar com aqueles caras, estar naquela banda, você sentiu que conseguiu deixar sua marca na banda?
JOSH: Espero que sim.

MARC MARON: Eles tiveram vários guitarristas, e eu vi você tocando com eles. E eram músicas que ainda que você não tivesse gravado com eles você tinha um estilo seu.
JOSH: Isso é bom. Eu não li na internet, mas nas primeiras turnês que fiz com eles, tinha muita gente me comparando com o John. E eu acho que gastei muito tempo pensando nisso. Fiz todas essas turnês com 20 anos e nunca pude desenvolver meu próprio estilo. Mas eu tocava, aprendia a tocar com as pessoas. Tinha um estilo ali. Mas com os Chili Peppers eu tocava músicas que tinham sido gravadas, famosas no mundo todo, eu tinha o máximo de respeito mas tentava ser eu mesmo, felizmente. Se essa mudança, John voltar, eu sair, tivesse acontecido 5 anos atrás, teria me destruído. Porque teria confirmado tudo que minha mente me dizia, que eu era ruim. Agora eu fiz dois álbuns, estávamos a quase um ano escrevendo um novo álbum, eu compus muito com eles.

MARC MARON: Então esse trabalho não foi gravado?
JOSH: Não, ele vai se perder.

MARC MARON: Uau. Então eles gostam de compor com você obviamente, vocês fizeram bastante coisa.
JOSH: É engraçado. Acho que foi positivo. É uma posição engraçada de se estar, ser a pessoa…que por um segundo achar que deveria estar lá. Absolutamente é o John que deve estar lá. É por isso que estou feliz por ele, estou feliz que ele voltou com a banda.

MARC MARON: Você acha que eles têm a intenção de fazer um novo álbum com o John?
JOSH: Sim, tem uma coisa, não importa o que aconteça, John e Flea especificamente tem uma linguagem musical, uma conexão de quando John tinha 17, e Hillel tinha acabado de morrer, a banda não tinha outro grande sucesso, eram pessoas muito diferentes em um tempo muito diferente. Quando eu entrei era 2009, era diferente. Sou muito grato à forma como eles me receberam em diversos níveis. E é por isso que tem esse álbum de extras. Gravamos muito e eles me deram muito espaço. Fomos longe, chegamos a fazer mais de 50 músicas, 25 ou mais nem chegou a ser finalizada. Mas algumas coisas foram deixadas de lado. Eu sempre tentava trabalhar pra fazer a minha parte. Eu lembro de pensar que achava que estava fazendo um bom trabalho. Flea e eu estávamos tentando ao máximo, mas eu nunca serei capaz de competir com a história que ele e o John tem.

MARC MARON: Interessante. Mas vocês se entendiam no palco.
JOSH: Sim, como eu disse se isso tivesse acontecido 5 anos atrás teria sido difícil para mim. Mas agora, 10 anos, 2 turnês, quase três álbuns, me sinto orgulhoso do que fiz com eles e acho que criamos algo além da música, num âmbito pessoal, somos amigos. Sinto que trouxe algo para todo mundo e tenho muito orgulho. E eu cresci.

MARC MARON: E não é como se tudo tivesse acabado, você ainda tem seus amigos.
JOSH: Sim, Flea e eu almoçamos algumas vezes depois disso. Flea disse que isso nunca aconteceu antes, eles nunca mudaram de membros sem alguma tragédia ou após algo negativo, mas está tudo bem.

Flea e Josh

MARC MARON: Como eles contaram para você? Todos sentaram com você?
JOSH: Sim, foi bem suave. Eu fui de bicicleta até a casa de Flea, porque moramos perto. E eles foram diretos e falaram: “A gente decidiu chamar o John de volta” e eu fiquei em silencio por um tempo e falei “não estou surpreso” a única coisa que eu poderia ter falado era “ eu desejo que eu pudesse ter feito algo musicalmente que fizesse isso absolutamente impossível”. Mas isso seria impossível, como eu disse.

MARC MARON: Por quê você disse que não estava surpreso?
JOSH: Porque eu sabia que o John tinha encontrado Anthony recentemente, isso passou pela minha cabeça. Eu não falava com ele, mas eu o vi no casamento do Flea e ele estava numa situação ótima, confortável, tocando guitarra, acho que fazia tempo que ele não tocava guitarra.

MARC MARON: Sério? O que ele estava fazendo? Teclado?
JOSH: Sintetizadores, programação, música eletrônica. Ele fez coisas incríveis. E eu ouvi que ele tinha deixado a guitarra de lado. Mas ele está de volta.

MARC MARON: Ele está de volta. Fico feliz que você está bem com isso.
JOSH: Tive alguns momentos, no fim do dia, por mais divertido que estar numa banda seja, é cansativo às vezes. John disse quando entrei “não tem nada como acordar de manhã, ter uma ideia e tocar com seus amigos” e é verdade. Quando eu tinha 10, 11 anos, eu queria estar numa banda e ainda quero.

MARC MARON: E você pode.
JOSH: Sim, espero.

MARC MARON: Qual o plano? Vai se juntar ao Dot Hacker?
JOSH: Talvez. E a primeira vez que não tenho nada no meu calendário desde quando eu era adolescente (a turnê de abertura para o Pearl Jam com o Pluralone ainda não tinha sido divulgada quando a entrevista foi feita).

MARC MARON: Você não está pirando?
JOSH: Não. Pelo menos não, por enquanto. Eu tenho ótimos lugares pra trabalhar.

MARC MARON: Onde? A sua casa?
JOSH: Não. Eu não chamo de estúdio porque eu não necessariamente me gravo. No máximo uso um gravador de oito canais. É tipo um depósito com várias coisas.

MARC MARON: É alugado?
JOSH: Sim.

MARC MARON: Isso é interessante. Só você ou tem mais gente?
JOSH: Só eu. Eu tenho uma amiga que cuida de móveis e ela tem uma loja na frente.

MARC MARON: Eu queria tocar com mais pessoas.
JOSH: Pode ir lá.

MARC MARON: Eu não sei…como você decide qual pedal usar?
JOSH: Eu não sei…tenho muitos agora. Tenho a reputação de ter um pedal board enorme. Mas eu gosto mais de tocar limpo. Tem muitas coisas que você pode fazer com a guitarra limpa.

MARC MARON: É muito legal aquele amplificador Fender 57 Deluxe. O que você toca com ele?
JOSH: Eu tenho um, é lindo. Não sei se e é exatamente 57 ou um 58, mas ele é bom. Eu tenho muitas coisas, talvez tenha que me desfazer de algumas.

MARC MARON: Você toca a Firebirds?
JOSH: Sim, tenho uma…não, na verdade tenho 3.

Josh tocando uma guitarra Firebird.

MARC MARON: Você gosta delas?
JOSH: Sim, a Firebird 7eu toquei na turnê com a PJ Harvey e me apaixonei. Também tenho uma Les Paul. Neil Young e Daniel Lanois usavam uma com um que mexiam na ponte da guitarra. E cria dois tons incríveis.

MARC MARON: Achei que o Neil tocava as P9.
JOSH: Sim, a P9 e a Firebird com Les Paul Pickup. Ele tem a 53 Gold Top e 53 Left Gold. Eu toquei com ele.

MARC MARON: Quando?
JOSH: Com uns amigos que queriam montar uma banda depois da turnê com a PJ Harvey. Ele conhecia o Lanois e fomos a casa dele e tocamos. Fizemos alguns shows muito bons no Canadá. O engenheiro se tornou um amigo e gravou o primeiro álbum do Dot Hacker.

MARC MARON: O Bob Dylan fez umas coisas diferentes com um cara da música eletrônica.
JOSH: Sim, o Venetian Snares, que também fez músicas com o John Frusciante.

MARC MARON: Sim, o Venetian Snares. Ele também fez parcerias com o John Frusciante?
JOSH: Sim.

MARC MARON: Eu tentei ouvir o álbum do Lanois. Não sei quantas vezes eu ouvi.
JOSH: Eu ouvi uma vez.

MARC MARON: Os seus pais estão tranquilo com a sua vida agora?
JOSH: Sim, agora com certeza estão.

MARC MARON: E como foi quando você consertou a guitarra que quebrou na frente dela?
JOSH: Eles não acreditaram quando ela foi pro museu do Rock And Roll Hall Of Fame.

MARC MARON: Eles sabiam que era essa guitarra?
JOSH: Sim.

MARC MARON: Bom falar com você!
JOSH: Obrigado por me ouvir.

Tradução: Wendell Correia

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